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O bullying no mundo digital

O bullying é um termo novo para conceituar algo muito antigo: a intimidação sistemática. O bullying já está tipificado na lei nº 13.185 e significa um ato de violência física ou psicológica que pode ocorrer sem motivação e é praticado por uma ou mais pessoas.

Muitas vezes, o bullying começa como uma brincadeira, algo engraçado, mas que acaba intimidando, desrespeitando, magoando, trazendo angústias para quem é alvo da “zoação”. E, como o bullying é sistemático, pode destruir a autoestima de quem o sofre e incentivar a solidão.

O bullying causa um desequilíbrio social de poder entre as partes envolvidas (seja na família, na escola ou no trabalho), fazendo com que haja uma seleção natural entre grupos: os que se divertem e os que são a base da diversão. A análise parece insultuosa, pois o que há de mal em fazer brincadeira com um colega ou parente? Temos que entender que, em um grupo, para haver uma brincadeira, todos precisam brincar, e que não há brincadeira quando apenas alguns dão risadas sistemáticas e outros são o alvo.

Nas relações que se estabelecem no mundo real, 29% dos estudantes brasileiros declaram que sofrem bullying pelo menos uma vez por mês, segundo a recente divulgação do relatório PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), de 2018, feito para a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Estamos falando que três em cada 10 alunos brasileiros reclamam de bullying e estão mais propícios a se isolar, ter depressão, sequelas psicológicas, abandonar a escola ou até mesmo usar substâncias entorpecentes como forma de abrandar ou fugir do sofrimento.

O bullying se torna mais severo com o avanço da tecnologia e a ampliação das redes sociais. Temos que ter em mente que, antes da disseminação das redes sociais, um jovem que sofria discriminação em função do peso, da altura, da cor da pele, do tipo de cabelo, do poder aquisitivo, religião ou por uma limitação física ou intelectual, conseguia um momento de tranquilidade quando não estava no ambiente hostilizador. Com as redes sociais, o bullying acompanha os jovens estudantes onde quer que eles estejam.

Os grupos de WhatsApp e as redes sociais são impiedosos e a intimidação sistemática pode se manter até quando o jovem está no aconchego de sua casa. Os grupos postam fotos, vídeos ou áudios gravados de forma oculta e que mostram situações cotidianas da intimidade de uma pessoa que é alvo da “chacota coletiva”.

Para termos empatia com uma situação, precisamos de um exemplo. Imagine um adolescente que tenha uma perna mais curta do que a outra e que, por isso, tenha um caminhar “que possa ser considerado como engraçado”. Esse adolescente poderá ser filmado e fotografado em várias situações: descendo uma escada, fazendo educação física, escrevendo no quadro branco e assim por diante.  E essas imagens e fotos podem rodar pelos grupos de Whats e até mesmo viralizar nas redes sociais e tudo em tom de brincadeira. Também poderá ser apelidado de “perneta” ou ser excluído das festas e encontros da turma, pois, afinal de contas, é um “perneta”.

Temos o desafio de compreender que o bullying está presente em nossa cultura e termos a sensibilidade de detectá-lo, criando uma atmosfera de conscientização. O principal ingrediente dessa “receita” é o respeito e o tempero é a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro e não fazer para o outro o que não quer para si.

http://www.coletiva.net/colunas/o-bullying-no-mundo-digital,326730.jhtml

 

Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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