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O lugar da política é em todo o lugar

Parte do meu cotidiano como cientista política está relacionada com o estudo do funcionamento da política e, em especial, sobre o comportamento político eleitoral da população.

Não é de hoje que a maior parte da população não gosta de política, não se interessa e não tem o hábito de conversar sobre política. A maioria não se envolve com partido político e não participa de nenhum tipo de entidade representativa (como associações, sindicatos, conselhos…).

As redes sociais potencializaram a participação e o engajamento político virtual de parte da sociedade e o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião tem monitorado o interesse por temas políticos. Atualmente, ¼ dos gaúchos costuma acompanhar postagens sobre política e ¼ procura o tema quando há um debate que interessa, em especial, quando há polêmicas. A outra metade dos gaúchos afirma que não utiliza as redes sociais para se informar sobre política ou nunca se informou sobre o tema.

Na prática, a população tem sido, sistematicamente, ensinada a não gostar de política através das sucessivas experiências negativas com a política partidária. Como a sociologia e a ciência política não estão presentes no currículo das escolas desde as séries iniciais, o conhecimento sobre política ocorre através da experimentação: a população vive a experiência com a política partidária do país e, através dessa, tira suas conclusões.

E o que a política partidária tem ensinado à população:

– Que promessas feitas não precisam ser necessariamente cumpridas;

– Que uma coligação pode fazer inimigos políticos se tornarem amigos;

– Que o toma lá, dá cá faz parte das negociações políticas;

– Que a corrupção envolve políticos de todos os partidos;

– Que as leis são feitas pelos políticos para beneficiar os políticos;

– Que a política faz a vida piorar.

Para tentar se defender, a população que não confia nos partidos, tenta acreditar na pessoa de um político, onde deposita as esperanças até que haja uma nova decepção.

A cultura política instituída no País nos ensina que o “bom” é se manter longe da política, como se política fosse algo ruim. O que aprendemos com exemplos ruins contraria o princípio da democracia representativa que pressupõe participação da população, onde todo poder emana do povo.

A política é o que nos une em sociedade, o que pode inspirar o sentimento de comunidade, de solidariedade. A política é a arte do diálogo, da negociação, do estabelecimento de regras, da pactuação. A política fez nascer o contrato social entre as pessoas, a política é a base do direito e das leis que nos regem.

A política está presente nas relações entre os casais, quando estes decidem se terão uma relação mais conservadora ou aberta.

A política está em nossas casas, quando decidimos como iremos criar os nossos filhos, se será uma relação menos ou mais democrática.

A política está dentro das escolas, na lição do professor que determina se seus alunos irão ou não participar da aula.

A política está presente nas relações de trabalho, quando os gestores da empresa decidem as regras internas de convívio ou se irão dar benefícios além do que a lei exige.

A política está presente em nossas relações, nos micro espaços de poder do nosso dia a dia, em todo o lugar que temos a capacidade de decidir ou fazer algo pelo outro. A política está presente nas nossas escolhas e na maneira como vemos o mundo. A política está presente no mundo que idealizamos.

http://www.coletiva.net/colunas/o-lugar-da-politica-e-em-todo-o-lugar,300808.jhtml

Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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