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O voto clientelista continua sendo ativado

Quando a democracia foi pensada, se imaginava o voto por critérios políticos. Significa dizer que a decisão do voto seria por adesão a uma proposta, por interesse de classe (ter os interesses de uma categoria representados) ou por ideologia, o voto associado ao plano das ideias (que também poderia ser a causa de um partido, o voto partidário).

Infelizmente, tem se visto que a prática política de muitos candidatos motiva o voto pela imagem, pela rede de relacionamento ou pelo clientelismo, movimentando o toma-lá-dá-cá.

E a cultura política de uma parcela do eleitorado responde a esse apelo dos candidatos populistas, votando pela sensação de que terá um benefício, de que receberá um auxílio ou até mesmo um favor.

A prática clientelista tem aumentado de eleição para eleição. Pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, verificaram que na última eleição esse indicador estava na casa dos 10% dos votos e ampliou-se como tendência, na eleição de 2020, para casa dos 15%.

Um dos fatores que motivaram o aumento do voto clientelista está associado à precarização financeira causada pela pandemia, tendo em vista que mais de 1/3 dos gaúchos perderam mais da metade de sua renda.

O fenômeno do clientelismo é maior em campanhas para vereador, onde o relacionamento entre o candidato e a comunidade é mais intenso e está associado a “ajudas” que podem se dar de forma direta ou indireta:

O clientelismo direto ocorre quando um candidato a vereador atua como “despachante”. Usa seus conhecimentos e sua rede de relacionamento para beneficiar o seu eleitor e, em alguns casos, utiliza a estrutura do governo vigente. Resolve problemas pessoais dos eleitores, intervém para que o seu eleitor passe na frente em uma fila institucional (para realizar um exame ou conseguir uma matrícula em uma escola). Na prática, acaba sendo um grande propagador do jeitinho brasileiro, dá um jeitinho para conseguir uma vantagem para o seu eleitor. Há casos em que o clientelismo direto também se arrisca entregando donativos, doando cestas básicas, telhas ou até mesmo fraldas.

O clientelismo indireto se dá quando um candidato a vereador se utiliza das estruturas comunitárias, organizações não governamentais ou até da reputação de líderes locais, associando os mesmos à sua imagem. Esse candidato cria uma confusão na cabeça dos eleitores, passa uma mensagem de que os benefícios recebidos na comunidade ou pela entidade são frutos de seu trabalho.

Esses candidatos clientelistas atuam em comunidades carentes, que estão mais preocupadas em sua subsistência básica do que em prestar atenção se está ou não ocorrendo compra de votos.

A Justiça eleitoral se esmera para ampliar a descrição das práticas clientelistas, definindo que “compra de voto é a doação, o oferecimento, a promessa, ou a entrega, pelo candidato, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, de bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição.”

Para combater o clientelismo são necessários vários movimentos simultâneos: a) ampliar a educação política, informando a população de que direito é diferente de favor; b) um combate ao jeitinho brasileiro, c) denúncia sistemática dessas práticas à Justiça Eleitoral; d) maior transparência e eficiência do serviço público, para que a figura desses candidatos despachantes seja desnecessária.

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https://www.coletiva.net/colunas/o-voto-clientelista-continua-sendo-ativado,378613.jhtml

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Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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