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Se nunca fui entrevistado, como acreditar em pesquisas?

Cada vez é mais comum ouvirmos dúvidas sobre as pesquisas de opinião, “se nunca fui entrevistado, como confiar nos resultados apresentados em uma pesquisa?”.

Este debate envolve vários fatores e focarei nos três principais, que são: A) Profissionais habilitados; B) Técnica adequada; C) Instabilidade do comportamento humano.

Quando se fala em pesquisa se fala em ciência e não pode haver ciência sem cientista. As pesquisas que envolvem a declaração de pessoas, como as pesquisas de satisfação, de comportamento de consumo e até as eleitorais são pesquisas atinentes à realidade social, e o profissional capacitado para este tipo de estudo é o sociólogo. O sociólogo desenvolve e utiliza um conjunto variado de técnicas e métodos para o estudo dos comportamentos em grupo, e cabe a este profissional definir as variáveis que podem ser importantes em cada estudo, conforme a realidade social em questão.

Como as pesquisas precisam “entrevistar apenas alguns” e, ao mesmo tempo, representar o todo, é necessário utilizar uma amostra que espelhe a realidade social analisada. Para tanto, o sociólogo precisa da parceria do estatístico, que é o profissional que cuida dos números e atua no cálculo da amostra, verificando as teses apontadas pelo sociólogo e, também, responsabilizando-se pelas análises estatísticas. Um exemplo desta parceria são as pesquisas eleitorais registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que, por força da lei eleitoral, cada pesquisa exige um registro deve constar o nome do estatístico responsável.

O sociólogo e o estatístico fazem a previsão de todos os cuidados que a pesquisa precisa ter e do perfil de quem deve ser pesquisado. Em um levantamento com a população, deve-se garantir a representação de gênero, definir o número de entrevistados de determinada idade, renda, bairro e situação de trabalho. Se há 10% de desempregados, a pesquisa deve ter 10% de desempregados.

No exemplo de uma pesquisa com empresários, a amostra deve indicar quantos de cada porte (pequeno, médio e grande), quantos de cada segmento da economia (comércio, serviços, indústria, agro) e quantos empresários com negócios recém-abertos, quantos com menos de cinco anos de empresa e quantos com mais de cinco anos, e assim por diante.

Se a pesquisa atendeu aos dois requisitos acima – teve os profissionais habilitados e utilizou a metodologia adequada a discussão sobre as variações – deve levar em consideração o fator humano, a variação comportamental da sociedade.

O debate mais clássico está associado às pesquisas eleitorais, tendo em vista que a expectativa é de que a pesquisa se confirme na urna. A grande pergunta é: porque há tantos casos em que o estudo publicado diverge do resultado da urna?

Na maioria dos casos se tem acesso apenas à intenção de voto dos eleitores e, em uma pesquisa, há sempre vários indicadores que explicam uma tendência. Um exemplo é a cristalização dos votos, fruto de uma questão aplicada aos eleitores, quando o entrevistado declara qual a certeza da intenção, se ela é definitiva ou não. Quanto mais tenso é um cenário em disputa, maior a possibilidade de alteração da intenção de voto.

Há muito o que avançar no debate das pesquisas, tanto no que diz respeito à exigência dos profissionais habilitados, quanto à revisão crítica dos métodos adotados e, em especial, na análise dos fatores que influenciam as mudanças comportamentais.

https://www.coletiva.net/colunas-/se-nunca-fui-entrevistado-como-acreditar-em-pesquisas,285999.jhtml

Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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