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Se salvamos a política, salvamos a ética

Meu artigo da semana passada alertou sobre importância de “salvarmos a política”. Sei que para muitos, essa reflexão parece estranha, antipática ou desinteressante. A política é um tema que 2/3 da sociedade não se interessam e quase a metade da população acredita que, quem se envolve com a política, não presta.

É compreensível e conveniente negarmos a política e continuarmos nossas vidas! Afinal de contas, a sensação é de que a política não tem nada a ver com a maioria das pessoas. Nas pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião escuto muito a frase: “Por que vou me envolver se não ganho nada com a política?”.

A baixa aceitação e a falta de credibilidade dos políticos estão associadas à ideia de que os mesmos defendem os seus interesses pessoais e não os da sociedade. De certa forma, esse dilema tem origem em nossa cultura política, que privilegia o jeitinho brasileiro e se agrava pela falta de vocação de quem deveria “viver para a política” e “acaba vivendo da política”.

E quando se realiza essa reflexão, retoma-se a origem do problema: como vamos ter políticos que vivam para a política se não somos ensinados a conhecer, gostar e se envolver com a mesma?

Ao contrário, nossa prática cotidiana nos ensina a utilizar o jeitinho brasileiro. A burlar as regras, usar os limites ou as falhas da lei e, principalmente, utilizar as redes de relacionamento para estreitar caminhos ou levar vantagem.

E os indicadores mostram que, paralelamente, amplia-se o número de pessoas que condenam a política e que usam o jeitinho para se dar bem em cima de outra pessoa.

Para combater o jeitinho brasileiro é necessário que haja consciência desse problema: seja por quem pratica, mas também por aqueles que se tornam coniventes ou se omitem diante das práticas incorretas. Para não nos incomodarmos, fazemos de conta de que o errado é certo e chega um momento que não temos mais certeza do que é certo ou errado.

E não podemos esquecer que o jeitinho brasileiro aproxima o favor da corrupção, servindo como “ponte de acesso” entre conceitos tão distintos. Com isso, nos confunde ao deturpar o princípio ético. Constrói a ideia de que o esperto leva vantagem e que quem cumpre a regra é um babaca.

Se salvamos a política, combatemos o jeitinho. Pois, para salvarmos a política, precisamos resgatar a ética. Significa que temos que fazer o que é certo e temos uma constituição e todo um ordenamento jurídico que nos diz o que podemos fazer e o que não podemos. Nesse sentido, ética é cumprir a regra, a norma, respeitar a legislação, ter consciência de que o meu direito termina quando começa o do outro. Se estou em uma escola, devo cumprir as regras da escola. E as regras da escola não devem estar em desacordo com a Constituição.

E o mais bacana nessa história é que, se uma regra ou lei não é boa para a sociedade, cabe à política redesenhar o princípio, repactuar a regra, estabelecer novas leis. A ética visa ao bem-estar do indivíduo, a política visa ao bem-estar da coletividade e o direito mantém a harmonia.

É fundamental que cada um de nós se envolva mais com a política, sendo que o primeiro passo é ter interesse, curiosidade sobre o assunto. Com isso, vamos conhecer e ter mais informações sobre os nossos direitos e essa clareza nos ajudará a combater o jeitinho e os oportunistas que usurpam da política e se alimentam do desconhecimento e do desinteresse da população.

http://www.coletiva.net/colunas/se-salvamos-a-politica-salvamos-a-etica,322933.jhtml

Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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